terça-feira, 24 de março de 2015

O matuto no carnaval...



Eu venho dos bredos da mata
A onde o sol descortina
Onde acordo bem cedinho
Com os pássaros lá na campina
Acordo ao cantar do galo
Pra fazer cuscuz de ralo
Pra mim tomar com café
Quando acordo bem cedinho
Pra tomar meu cafezinho 
Com Jesus e muita fé

Porque só sei viver solto
Brincando com as fulô
Eu não sou como aqueles homens
Que andam de elevador
E vive tudo engravatado
Como um guiné amarrado
Eu sou matuto seu doutô!

Eu nunca fui numa festa 
A num ser de cantoria!
Vaquejada ou novena
Frequento com alegria
Nunca fui num carnaval
Disseram que é bem legal
Quem disse foi minha tia

Tia chegou lá em casa
Chiando, veio a passeio
Trouxe o meu primo Carlinhos
Alzembergue também veio
Pegaram a me azucrinar
Ate conseguir levar
Lalauzinho pro veraneio
Lá vai ter o carnaval
É na praia de Tibau
E de mulher o mar ta cheio

 Quando eu escutei isso
Peguei logo a me animar
Meus primos foram dizendo
Lalauzinho vá se arrumar
Bote tudo que puder
Só não bote uma mulher
Que mulher lá não vai faltar

Fui correndo pra cozinha
Peguei logo um matulão
Soquei dentro, uma galinha
Que tava lá no fogão
Uma banda de rapadura
Uma banana madura
Farinha, arroz e feijão

Foi quando cheguei na paria
Chapéu quebrado na testa
Botas de couro de gado
Pra mim dançar qualquer festa
Vi o mar verde azulado
Eu gritei logo assustado
 Vixe! do açude que presta
   
Mas que açude aloprado!
Meu primo, quis gozar deu
Disse: vamos se banhar
Eu disse: vamos valeu!
Espere aí, vou me trocar
A ceroula eu vou botar
Não vão embora sem eu

Chegando na beira mar
As mulheres todas despidas
Com aquele fio dental
A mulher mais atrevida
Pra todas lá eu olhei
Acredite que achei
A coisa melhor da vida

Eu fiquei desconfiado
Armei logo o berimbau
Saí pra tomar um banho
Dei um mergulho legal
Fui saindo bem ligeiro
E dizendo no aperreio
Tem bem um quilo de sal

Foi quando a noite chegou
Eu fui pro tal carnaval
Tinha umas papa de isopor
Um povo melado de cal
As negas todas pulando
Pulando e cheirando um pano
Foi quando entrei no sarau

Cai logo na folia
Comecei a dançar a só
O meu primo veio chegando
Com pedaço de lençó
E disse assim: Lalauzinho
Cheire bem devagarinho
O que é isso? é loló

Eu lá sabia o que diabo era
Dei um cheiro bem profundo
Vi trezentas besta fera
Vi rodando todo mundo
Os meu pés saiu do chão
Eu disse assim: meu irmão
Estou virando vagabundo

Veio uma mulher dizendo
Um tapinha não dói, um tapinha não dói
Dei uma tapa na sua bunda
Quando dei fé, seus avós
Tio, parente e irmão
Entrei numa confusão
Quase não saía mais
Fui para a delegacia
Só sai no outro dia
Quem me soltou foi Tomaz

E esse foi o advogado
Que chegou pra me soltar
E o delegado meio quente
Começou logo a falar
Um papel lá assinou
E disse assim: doutor
Leve esse doido pra lá


Que já ontem ele foi preso
Por causa de um celular
 Que ele tomou de um senhor
E começou logo a quebrar
Pensou que era uma barata dagua
Que ia lhe ferroar

Deixei a delegacia
Pra não sair no jornal
Entrei no carro dia
Chorando e passando mal
Meus primos disseram logo
O que ele fez não fez mau
Aí, foi quando escrevi
O matuto no caranaval

(Lalauzinho de Lalau)

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